Doenças Cardiovasculares
Portugal tem mais de 5 mil pessoas com 100 ou mais anos e a previsão é para este número duplicar até 2050. Como as doenças cardiovasculares – o AVC e o Enfarte do Miocárdio – são as principais causas de morte no nosso país faz todo o sentido divulgar a sugestão do Prof. Braunwald, sugestão particularmente importante para o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos (e também para nós próprios).
Desde as primeiras descrições de metabolitos fúngicos isolados em culturas feitas por Akira Endo (1976), que as estatinas foram exaustivamente estudadas. Os últimos ensaios clínicos comprovaram 3 factos fundamentais:
- Eficácia das estatinas, isoladamente ou associadas a outros medicamentos, como por exemplo ezetimiba e inibidores da PCSK9;
- Redução da morbilidade e mortalidade cardiovascular, particularmente evidente nos casos em que se utilizaram doses mais elevadas de medicação e se conseguiram valores alvo de LDL (mau colesterol) mais baixos (< 55 mg/dl);
- Segurança, mesmo em doentes idosos.
Com base nestes e outros conhecimentos científicos recentes, o Prof. Eugene Braunwald explica a razão de ser desta sugestão (fig.1). Nesta figura estão representadas as 3 situações clínicas que documentam os conceitos fundamentais.
A linha vermelha indica a evolução da aterosclerose arterial em doentes com hipercolesterolemia familiar.
A hipercolesterolemia familiar é uma das causas genéticas mais frequentes da doença coronária prematura devido ao facto de, desde o nascimento, as crianças apresentarem valores muito elevados de colesterol (> 260-290 mg/dL). Acredita-se que a aterosclerose arterial se manifesta quando se atinge uma determinada carga total de colesterol/ano (tracejado amarelo) o que, nestes casos, ocorre muito precocemente, 20-40 anos nos homens e 40-60 nas mulheres (ponto B).
Na linha verde observamos a situação mais frequente na sociedade atual, em que os acidentes cardiovasculares ocorrem pelos 50 a 70 anos, altura em que, para valores médios muito mais baixos, se atinge este limiar (ponto A).
Obviamente que existem outros fatores muito importantes como o tabaco, a hipertensão arterial, a diabetes, que sabemos acelerar a evolução do processo aterosclerótico e/ou favorecendo a ocorrência do acidente cardiovascular (gatilho), como por exemplo o stress e o exercício físico intensos.
Na linha azul vemos o que o Prof. Braunwald nos propõe e que é a manutenção de valores alvo de colesterol, 60% inferiores aos valores atualmente considerados normais, de forma a atenuar o pendor da inclinação de progressão, atingindo-se o valor limiar (ponto C) apenas aos 100 anos.
Sabemos que esta hipótese documenta apenas um modelo conceptual fundamentado em evidências científicas recentes com possível aplicação na prática clínica diária. Servi-me dele para ilustrar as vantagens em recomendar taxas de colesterol mais baixas, de acordo com as recomendações mais recentes e um controlo mais eficaz dos fatores de risco cardiovascular, de forma a impedir a evolução ou mesmo erradicar a aterosclerose arterial e os acidentes cardiovasculares.