O que é a Ciática?

Dr. Alfredo Figueiredo

Ciática é uma palavra utilizada pela primeira vez em 1451 para se referir à inflamação do nervo ciático, o nervo mais longo do corpo humano.

Geralmente, a ciática manifesta-se por dor desde a região posterior da anca até ao pé, podendo ser mais dolorosa numa região mais localizada do membro inferior respetivo (coxa, joelho, perna, tornozelo).

A dor pode acompanhar-se de formigueiro nalguma região do membro inferior e, nos casos mais graves, de diminuição de força muscular no membro.

Cerca de 90% dos casos de ciática devem-se ao envelhecimento de um disco intervertebral e saída da sua localização natural entre as vértebras: é a chamada hérnia discal.

Esse disco herniado provoca conflito de espaço com o nervo que emerge da medula espinhal, desencadeando uma reação inflamatória. É essa inflamação que é transmitida ao longo das fibras nervosas e que vão resultar nos sintomas típicos da ciática.

Estima-se que 40% das pessoas tenham um episódio de ciática nalgum momento da sua vida.

A ciática é um motivo frequente de consulta, em contexto de serviços de urgência ou não. No entanto, é importante apurar muito bem as queixas do paciente e fazer a sua avaliação cuidada uma vez que os seus sintomas podem ser motivados por outras doenças.

Uma condição clínica que resulta em sintomas semelhantes à ciática é a inflamação da articulação que estabelece a ligação entre a coluna e a bacia: a articulação sacro-ilíaca. O corpo humano tem duas articulações sacro-ilíacas que transmitem as cargas da coluna para os membros inferiores. Permitem apenas pequenos movimentos mas podem em qualquer momento iniciar um processo inflamatório após serem sujeitas a forças excessivas: sacro-ileíte. O seu tratamento é diferente da ciática e o paciente com sacro-ileíte recupera dos sintomas mais rapidamente.

É possível fazer o diagnóstico da ciática sem recorrer a exames complementares, embora a ressonância magnética permita localizar e caracterizar com precisão a hérnia discal e excluir as causas mais raras da ciática.

O tratamento é conservador, resultando na melhoria gradual dos sintomas ao longo de 6 a 8 semanas em 90% dos pacientes.
O objetivo do tratamento é dar ao organismo as condições de ele próprio resolver o problema, sobretudo quando se trata de um primeiro episódio de ciática, respeitando o principal aforismo de Hipócrates (pai da Medicina): “Primum non nocere” (em primeiro lugar, não fazer mal ou não agredir).

As linhas principais do plano terapêutico são:
– proporcionar a descarga da coluna, limitando as atividades que impliquem esforço físico e evitando a posição de levantado e sentado (as posições que aumentam a pressão nos discos intervertebrais). Deitar por períodos é útil, mas o repouso prolongado na cama não é aconselhável.
– atacar a inflamação que resulta do conflito de espaço entre o disco e o nervo
Desta forma, é possível levar à resolução progressiva da ciática através da reabsorção pelo organismo do disco.

O tratamento cirúrgico está indicado apenas em situações excecionais em que a dor e incapacidade se prolongam apesar do tratamento conservador instituído.
A cirurgia pode acelerar a recuperação mas já foi demonstrado que 6 a 12 meses depois do início da ciática, os doentes que foram submetidos a tratamento conservador estão aptos a fazer as suas atividades gerais e laborais tão bem como os que foram operados numa abordagem inicial.

É sempre bom lembrar que qualquer intervenção cirúrgica tem riscos e complicações e nem sempre a opção cirúrgica para a ciática acaba com os seus sintomas.
O paciente deve procurar junto do seu médico assistente quais as opções de tratamento mais indicadas para o seu caso específico.